Estava andando com uma amiga na rua e era horário de saída das crianças da escola, de uma que fica aqui perto do campus. Em um certo trecho tivemos que sair da calçada e andar pela rua porque um carro sedan estava literalmente, inteiramente estacionado em cima da calçada, o pai do lado de fora ajudando calmamente o filhos e amiguinhos a colocarem as malas dentro do carro. Fiquei pensando, e juntando essas a outras experiências urbanas parecidas comentei com a minha amiga que eu acho a cidade de Hangzhou espacialmente “ótima”, mas que parece que não é totalmente compatível com a vida e os hábitos da população. Cidades grandes e turísticas como Hangzhou vivem e estão vivendo reformas grandes. Quem vem de São Paulo pra cá se impressiona com a qualidade das calçadas, com as ciclovias e as avenidas arborizadas. Mas será que esses não são os nossos padrões de cidade “ótima”? Eu acredito que as autoridades chineses pretendem, com a “renovação” e “embelezamento”, ou com o “desenvolvimento” (para usar a palavra favorita delas) das cidades, também renovar, embelezar e desenvolver a própria população em seus hábitos, ou seja, neste caso, ocidentaliza-la. Eu acredito que a China ganharia muito olhando mais para si, valorizando seus próprios hábitos e seu próprio povo, sua própria história, e a partir desse olhar mais introvertido perceber e conceber como seriam cidades “ótimas”, à maneira chinesa. Do jeito que está hoje, os chineses acabam sendo o povo que mais desrespeita regras do mundo; claro!, se as regras não foram moldadas para esta população, mas sim baseadas e copiadas de outras nações e povos. Estacionar sobre a calçada, cuspir por toda a rua, passar no sinal vermelho e atravessar a rua no sinal vermelho também; secar as roupas e as verduras num varal na calçada. Os chineses estão constantemente quebrando regras porque o espaço onde estão foi a eles imposto repentinamente. Impõe-se um novo espaço e um novo modo de vida. Essa população flutuando no tempo e no espaço faz com que nós estrangeiros neste país tenhamos uma sensação de caos diário. Será que os próprios chineses também não?
Foto: Calçada, ciclovia/motocavia, ilha de árvores e via de automóveis, numa avenida aqui perto do campus.